quinta-feira, 7 de abril de 2011

É MELHOR RESPEITAR OS LIMITES



          A mídia brasileira tem dado voz aos climatologistas que defendem a tese do esfriamento global, negando o aquecimento e falando de ciclos de aquecimento e resfriamentos climáticos das ultimas décadas para prever um período de resfriamento.
          Os climatologistas que prevêem o aquecimento falam de temperaturas altas nunca antes registradas, do derretimento do gelo glacial e; principalmente, de alterações da quantidade de gases-estufa na atmosfera. As perfurações no gelo glacial, que contém amostras da composição gasosa da atmosfera de centenas de milhares de anos atrás, apontam que o nível dos gases-estufa nunca foi tão alto. Os incrementos coincidem com a revolução industrial, baseada em combustíveis fósseis.
          Os climatologistas do resfriamento nada dizem sobre o aquecimento recente. Eles contrariam suas projeções, que indicavam um resfriamento a partir dos anos 1990. Quanto aos gases-estufa, dizem que, na dinâmica do carbono no planeta, os fenômenos não-humanos movimentam bilhões de toneladas deles, enquanto as emissões humanas são de milhões.
          Por serem dados estatísticos tão insignificantes em relação à movimentação total, defendem que reduzir emissões é bobagem e criticam os leigos, políticos e empresários dizendo que não entendem de clima e que tudo são uma guerra econômica e política. Por isso defendem o uso de combustíveis fósseis. Admitem a contribuição para  poluição, mas não vêem mal em lançar gás carbônico no as. Esse seria o “gás da vida” – e não o vilão ambiental.
           De fato, é fundamental para a fotossíntese nas plantas. Mas seu teor é muito homogêneo na atmosfera e não é causa da diversidade da vida vegetal. Ela se diversifica em função da variação de fatores atmosféricos, como umidade, temperatura, insolação e ventos. Isso explica a biodiversidade e não o nível de gás carbônico de cada local.
          Ao xingar seus rivais, leigos ou não, de lobistas de uma guerra geopolítica e comercial, mostram que também estão nessa guerra ao lado da indústria dos combustíveis fósseis. Políticos e empresários tem seus interesses particulares e nem sempre estão preocupados com o meio ambiente. Mas isso não significa que não devamos nos preocupar com as mudanças climáticas.
          Se vai esfriar ou esquentar, isso é o de menos. Como no corpo humano, tanto a hipotermia como a febre do planeta podem gerar dor; sofrimento e morte. Do mesmo modo, a contribuição humana de emissões de gases-estufa pode ser pouca em relação à dinâmica da biomassa do planeta.
          Mas, se estatisticamente é pouco significativa, na prática pode ter o mesmo impacto na saúde do planeta que alguns poucos graus tem no corpo humano. Nenhum médico vai justificar com estatísticas a omissão de cuidados num quadro de febre ou hipotermia.
          Ele vai agir e depois discutir a causa. A gente deveria ter essa postura também. Mas estamos discutindo muito e agindo pouco.
          Em nome da ciência, devemos ouvir os climatologistas do resfriamento. Mas ouvir questionando-os sobre a fonte dos recursos das pesquisas e sobre suas opiniões políticas. Também questionando seus dados em relação aos defensores do aquecimento global. Mas principalmente, perguntando a  razão da vida ter fossilizado bilhões de toneladas de carbono ao longo de milhões de anos. Que motivo estratégico ela tinha para isso? Será que podemos mudar isso queimando carbono fóssil na velocidade de hoje, sem por algo em risco?
          Na dúvida, é melhor não ultrapassar certos limites. Portanto menos emissões e mais fixação de gás carbônico. Enquanto isso continue questionando as “verdades estatisticamente comprovadas” que chegam até nós.

           Autor: ARNO KAYSER, agrônomo, escritor e ecologista de Novo Hamburgo-RS

Nenhum comentário:

Postar um comentário