quinta-feira, 19 de abril de 2012

O CONSUMO COMO FORMA DE AFETO

Um ponto comum nas diferentes opiniões de pais sobre os jovens é a crítica ao consumismo exagerado. Como entender esse comportamento ä luz do que aconteceu a sociedade brasileira nas últimas décadas? Para iniciar, há o encolhimento da família tradicional. Pais tem um ou dois filhos, muitas vezes criados por apenas um deles, pois quase 25% dos casamentos acabam antes dos dez anos. O casal sai desde cedo de casa para trabalhar. E, encerrada a licença maternidade, boa parte das mulheres (quase 70% delas trabalham fora de casa hoje) retoma sua lide diária de deslocamentos e dias de trabalho em escritórios, lojas e fábricas. Os pais continuam correndo da sobrevivência.

As creches, escolas, babás (cada vez menos) se ocupam com os cuidados parentais iniciais. Ao chegar a casa, cansados do dia de trabalho, os pais, muitas vezes, correm á televisão, a internet e aos jogos eletrônicos como forma de entreter as crianças para poder descansar um pouco. Culpados pela sensação de que estão longe dos filhos, eles tentam, muitas vezes, compensar a distancia com presentes. Devido a isso em pouco tempo o quarto das crianças está cheio de brinquedos, bonecos, joguinhos e tudo o mais que estiver ao alcance do cartão de crédito.

Os pequenos percebem logo que a birra, o choro, a reclamação e o protesto são boas moedas de troca na hora de conseguir o que querem. Pais com dificuldades de dizer “não” e filhos ávidos em ganhar resultam em jovens que consomem. O shopping é o local favorito deles, claro desde que possam levar alguma coisa de volta pra casa. Em tempos de tecnologia, um dos principais focos de interesse são os smartphones, tablets, computadores e jogos. Mimos nada baratos.

Nossa sociedade forneceu moldes que essas transformações ocorressem. O valor do indivíduo passou a ser medido, por aquilo que ele tem. O mérito da pessoa é avaliado hoje de maneira muito mais superficial, por aquilo que pode ser mostrado. E o consumo é a moeda forte nesse mercado.

O fenômeno é um reflexo dos tempos modernos. Mas é importante lembrar que existem outras possibilidades e valores que podem ser trabalhados com os filhos. Senão, corremos o risco de criar adultos insuportáveis. As escolhas profissionais, pessoais amorosas podem vir influenciadas exclusivamente por esse viés consumista e individualista. A vida emocional pode ficar ainda mais solitária, pragmática e chata. Esse futuro é seu sonho de consumo?

Um comentário:

  1. Ótimo texto a respeito de assunto tão pertinente e atual na sociedade em que vivemos. É necessário refletir bastante sobre o tema e buscar continuamente praticar o exercício de se comunicar com os familiares a fim de transformarmos nossa realidade mais justa e saudável.

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