segunda-feira, 9 de abril de 2012

SOBRE ALIMENTOS E ENERGIA


       As análises das instituições internacionais sobre o futuro mostram consenso sobre a produção de alimentos e de energia, com a preocupação global, se soma a insegurança sempre voltada ao tripé econômico, ambiental e social. Essa é a base que norteia as discussões que deverão ocorrer durante a Rio+20, em julho.
      A insegurança alimentar, conseqüência da pobreza e do forte crescimento populacional global, se soma a insegurança energética, fruto das instabilidades do petróleo  em suas áreas concentradas de reservas (Oriente Médio e norte da África), criando um mercado volátil e preocupante capacidade de oferta, frente a uma demanda exuberante. Somado a isto a forte necessidade de redução dos gases estufa originadas de energias fósseis, seja via maior eficiência e/ ou substituição por fontes renováveis.
      As projeções de crescimento da demanda sugerem que até meados do século XXI os preços das commodities agrícolas deverão, em média ser altos, contrariamente ao que aconteceu no século XX. Além do efetivo crescimento da demanda, os potenciais impactos negativos do clima serão outro fator de volatilidade nos preços e na oferta de alimentos e de energias.
      Nessa lógica, outro fator que merece comentário é a produtividade agrícola, que em países desenvolvidos e mais pobres, vem estagnada desde meados da década de 1980. Os aumentos na população e na renda podem determinar um crescimento de até 40% na demanda global de alimentos em 2030. Na energia renovável, passará do dobro. Segundo especialistas o Brasil terá peso extremamente relevante nesse crescimento da oferta, enquanto  a sustentabilidade requererá o uso crescente de recursos, mas de forma a não exceder a capacidade da terra em repô-los. Assim nesse crescimento será fundamental um adicional de terras para o aumento da oferta, com alta eficiência e sustentabilidade. Não se pode descartar volatilidade aos preços com impactos nos produtores, nos consumidores e nas finanças públicas.
            Já o objetivo global de redução da pobreza requer alimentos e energias acessíveis às populações de mais baixa renda com redução das emissões. O tema é prioritário e global. Não obstante, a manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas dependerá  das ações público-privadas em cada país.
      O balanceamento entre a demanda futura e uma produção sustentável mudará as relações geopolíticas. Independentemente do mundo emergente responsável pelo ritmo de crescimento global daqui para frente, tem-se como fatores determinantes do processo: países como o Brasil ou Rússia (ricos em recursos naturais e humanos) necessitarem de capital dos países desenvolvidos; países desenvolvidos necessitarem de produtos gerados no agronegócio ou no extrativismo mineral dos países em desenvolvimento.
      É nessa realidade que o Brasil tem a oportunidade de se tornar o líder mundial na oferta de alimentos e de energias, mudando a face da geopolítica mundial.
      O governo deve ter consciência dessa realidade e montar políticas sem preconceitos ou cobranças. O agronegócio é, intrinsecamente, a oferta de produtos com muita tecnologia, sem o debate estéril sobre agregação de valor. É uma das formulas para chegarmos a maiores índices de qualidade de vida e de crescimento industrial.

   Autor: Luiz Carlos C. Carvalho -  presidente da Abag – (Associação Brasileira do Agronegócio). Publicado na revista Globorural  de março de 2012

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