sexta-feira, 25 de maio de 2012

Educação física: vontade de comer pode exercer controle sobre exercícios

Algumas pessoas reagem à prática de exercícios físicos comendo mais, outras menos. Por muitos anos, os cientistas acreditaram que as alterações hormonais, estimuladas pelos exercícios, ditavam se o apetite das pessoas aumentava ou diminuía depois dos treinos. Agora, a nova neurociência está indicando uma outra causa provável.
O exercício pode influenciar a vontade de comer, sugerem dois estudos recentes, alterando o modo como certas partes do cérebro reagem à visão de alimentos.
Em um dos estudos, foram levados 30 jovens, homens e mulheres fisicamente ativos, a um laboratório da Universidade Estadual Politécnica da Califórnia, para duas sessões experimentais nas quais tiveram a cabeça coberta por bobinas de ressonância magnética funcional. Os pesquisadores queriam controlar a atividade do cérebro conhecidas como sistema de recompensa alimentar. As regiões do cérebro controlam o gosto e o desejo de comer a comida. Quanto mais atividade houver nas células que as compõem, mais teremos vontade de comer.
Porém, não estava claro como o exercício altera o sistema de recompensa alimentar.
Para descobrir isso, os pesquisadores pediram aos voluntários se exercitassem vigorosamente em bicicletas ergométricas computadorizadas ou ficassem calmamente sentados durante uma hora antes de se acomodarem nas mesas de ressonância magnética. Depois os voluntários trocavam de atividades.
Logo depois, os participantes assistiram a uma série de fotos em telas de computador. Algumas retratavam frutas, vegetais ou grãos nutritivos de baixo teor de gordura, enquanto outras exibiam cheeseburgers, sundaes e biscoitos resplandecentes. Algumas fotos que não eram de alimentos foram intercaladas na série.
O sistema de recompensa alimentar dos voluntários que ficaram sentados por uma hora se manifestou, especialmente depois de verem as imagens de itens açucarados e de alto teor de gordura.
Mas, se tivessem se exercitado antes, durante uma hora, as mesmas pessoas teriam mostrado um interesse menor na comida, de acordo com o exame cerebral realizado nelas. Sua ínsula e partes do sistema de recompensa alimentar teriam se mantido tranqüilas, mesmo frente aos sundaes.
Segundo especialistas, a capacidade de resposta a estímulos de alimentos caiu muito após o exercício, Essa redução se espalhou por muitas regiões diferentes do cérebro, incluindo aquelas que afetam a estima e o desejo de alimentos, além da motivação para procurar comida.
Embora não se tenha verificado se eles se alimentaram em um restaurante do tipo coma-quanto-puder nos dias em que se exercitaram, eles disseram, ao responderem o questionário, que se sentiram muito menos interessados em procurar outros alimentos após praticarem o exercício do que após descansarem.
Esses resultados, porém, podem não ser típicos. Todos os participantes da pesquisa da Politécnica da Califórnia tinham 20 e poucos anos, peso normal e estavam aptos a andar de bicicleta vigorosamente por uma hora. Muitos de nós não somos assim.
Além disso, em outro estudo novo e instigante da atividade do cérebro após o exercício descobriu, algumas pessoas sedentárias e acima do peso que reagem à prática de exercícios não desacelerando, mas aumentando o sistema de recompensa alimentar.
Nesse estudo, 34 homens e mulheres com sobrepeso começaram um programa supervisionado de exercício de cinco dias por semana, projetado de modo que cada um queimasse cerca de 500 calorias por treino. Eles estavam livres para comer à vontade.
Doze semanas depois, 20 pessoas do grupo tinham perdido cerca de cinco quilos em média. Mas 14 não tinham, tendo perdido no máximo apenas um quilo ou dois.
Aquelas 14 pessoas, também haviam apresentado as mais expressivas reações cerebrais a estímulos alimentares após a prática de exercício quando o estudo começou. Depois de três meses, essa liderança indesejável foi mantida. Seu sistema de recompensa alimentar se manifestou com bastante intensidade após a prática de exercício quando foram expostas a imagens de alimentos, e mostrou de fato uma atividade maior do que no início do estudo.
O cérebro dos respondentes, pelo contrário, reagiu de modo relativamente indiferente em relação a imagens de comida após o exercício.
O que tudo isso sugere, disse Hagobian, da Politécnica da Califórnia, é que "o exercício tem um impacto definitivo sobre as regiões do sistema de recompensa alimentar". Mas esse efeito pode depender de quem é a pessoa e do tipo de exercício que ela pratica, explicou.
Os jovens participantes da pesquisa que estavam mais em forma, o observou, completaram sessões extenuantes que pediam resistência física. "Para conseguirmos perder e manter o peso, é provável que precisemos fazer uma quantidade específica de exercício com freqüência", disse ele.
Para que o exercício diminua sensivelmente o desejo por comida, em outras palavras, é possível que a pessoa precise suar por uma hora. Também pode ajudar se a pessoa já for magra e estiver em forma.
Mas Hagobian está otimista quanto à possibilidade de a pesquisa ajudar quase todas as pessoas a se exercitarem melhor para controlar o apetite. "Pode haver doses ou tipos de exercícios que são mais eficazes para algumas pessoas do que para outras", disse ele. Eventualmente, as pesquisas sobre o cérebro podem ajudar as pessoas a identificarem o programa de exercício mais adequado para elas.
Entretanto, diz ele, não se deve ficar parado no sofá, mesmo quando se está faminto por causa do exercício. "Estar em forma pode ter efeitos psicológicos", disse ele, talvez aumentando o desejo de comer melhor e, a longo prazo, de perder quilos.
"Quatro ou cinco anos atrás, parecia realmente que os hormônios do apetite" controlavam o que comemos, disse Hagobian, que realizou alguns dos primeiros estudos do gênero. "Mas eu estou cada vez mais convencido de que é o cérebro que faz esse controle. Os hormônios não nos dizem que devemos comer. Quem diz é o cérebro. E se conseguirmos acertar a dose, o exercício pode alterar essa mensagem."

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