segunda-feira, 7 de maio de 2012

A OPINIAO PÚBLICA E AS AUTORIDADES

      No Brasil a opinião pública quer uma CPI gigante que desmascare os privilégios na classe política. A forca cidadã pode ser percebida nas declarações recentes de poderosos. Eles tem reclamado menos da mídias e mais da opinião púbica. O clamor popular e apartidário por ética assusta. Gorou a tentativa de apequenar a mídia. Tapar a boca do povo nas redes sociais é bem mais complicado que tentar controlar a imprensa. E Dilma defende como um mantra a liberdade de expressão.

      Tem autoridade que anda na contramão. O juiz Cezar Peluso deu uma aula de como não se deve sair da história. Aportou na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) disparando contra todos. Criticou a corregedora Eliana Calmon por insistir em investigar desvio de juízes: Que legado ela deixou?”“. Disse que Dilma “descumpre e ignora”a Constituição por não dar aumento para o Judiciário. Chamou Joaquim Barbosa de “ inseguro”, difícil e vulnerável aos afagos da mídia. E alertou. “É preocupante. Há uma tendência dentro da corte em se alinhar com a opinião pública”.

      A mesma opinião pública pressiona por um julgamento sério do mensalao. E acredita na promessa do novo presidente do Supremo, Ayres Brito, de julgar logo a denuncia de que o governo Lula tentou comprar o Parlamento em 2005. Brito que se aposentará em novembro ao atingir a idade máxima, pretende colocar todos os digníssimos para trabalhar até no recesso de julho, se necessário. Não quer correr o risco de deixar prescrever alguns delitos. A opinião pública concorda. E a ministra Carmen Lucia também. Ao tomar posse como presidente do TST, Carmen disse: “Nenhuma lei do mundo substitui a honestidade”.

      Consciente da onda de moralidade, o Congresso parece disposto a abrir Mao dos décimo quarto e décimo quinto salários para deputados e senadores. Mas o objetivo do sacrifício é menos nobre: derrubar a reforma que enxugaria em até R$ 185 milhões a estrutura da casa.

      Como todo mundo sabe – mas é bom lembrar -, deputados e senadores ganham R$ 26.700 brutos por mês e verbas extras de até R$ 170 mil mensais. Cada um. Cada senador dispõe de 77 funcionários, a maioria sem concurso. O nepotismo é driblado por um expediente solidário. Um contrata os parentes do outro e fica tudo em “famiglia”. A folha de pagamento do Senado é de R$ 2,4 bilhões por ano. Como justificar? O que o país ganha em troca?

      A opinião pública investe contra as regalias dos congressistas com a persistência de caçadores implacáveis. Nem a CPI de cachoeira, Demóstenes e companhia acalma esse povo. Quase todos os dias, são espalhados manifestos virtuais com oito sugestões para mudar a Constituição. E fazer de um congressista um homem público e não um potencial lobista. Uma das sugestões mais bem vindas é que o Congresso deixe de votar em seu próprio aumento salarial.

      Os magistrados não ficam atrás. Em São Paulo, decidiram na quarta-feira receber R$ 29 por dia em auxílio-alimentacao. Alcancará R$ 22 mil. A soma total é de R$ 55 milhões. O pagamento e retroativo a 2006. São quase 2.500 juízes. Cada um ganhará 22 mil. À soma total será de R$ 55 milhões. Nós vamos pagar a sopa dos magistrados. Quem vai nos convencer de que os juízes precisam da grana extra para comer?

      Em São Paulo, Lula e Sarney reúnem políticos aliados, tentando impedir que a cachoeira se transforme num tsunami e inunde o planalto. Dilma quer muito acreditar em Hilary que elogiou o combate ä corrupção no Brasil. Mas a sétima economia do mundo continua em 73 lugar no ranking da ONG Transparência Internacional.

      Ninguém sabe em qual delta todas essas CPIs vão desembocar. A temporada de caca começou, mas, até agora, somente Cachoeira e Demóstenes foram flagrados no estacionamento do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.

      Fonte: Ruth de Aquino, colunista da Revista Época

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